segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sobre uma sensação estranha que tive


Saudações!

Entrei no corredor onde as almas perdidas se encontravam. Apesar do aspecto hostil do ambiente, muitos corpos simpáticos se aproximavam de mim, e a mim dirigiam o mais delicioso sorriso do anoitecer. Eu, que ainda não estava acostumada com a situação, senti medo. Mas não era um medo qualquer... Era aquele tipo de medo que paralisa teu corpo, que maltrata tuas vísceras, e que come teu coração, e no lugar deste último, tu sentes um vazio e uma voz clamando por socorro, uma voz imóvel, um grito silencioso, um berro agonizante, a vontade de cair... Eu senti a maior das dores de barriga.

Aquelas almas perdidas estavam ansiosas, e talvez por isso, corriam de um lado para o outro, como se estivessem na espera de alguma notícia reveladora, do futuro, ou de qualquer outra coisa muito importante. Consegui vencer a anestesia que afetou meu corpo, e visualizei aquilo que constrangia as almas: a porta que dava acesso a um segundo cômodo. Não sei ao certo de que material foi feita, pois não cheguei a tocá-la, mas lembro do verde opaco e das listras brancas que lhe foram pintadas. A porta, composta por uma dupla abertura, tinha umas duas janelas de vidro, que nos permitiam espiar o que se passava por detrás de sua verditude. Algumas almas não se continham e corriam para as janelas, e obstruíam a visão... Elas estavam desesperadas, elas sentiam fome, e não queriam comer; sentiam sede, e não queriam beber; sentiam sono, mas não queriam dormir... Deus! Como estava forte aquela dor de barriga!

As almas, apesar de perdidas, estavam vivas... Vivas no sentido corpóreo, circulava sangue em suas veias e oxigênio em seus pulmões, contudo, a mente, que estava perdida, não sentia nada. Não tinham vontade de nada, e a expectativa pelo que sairia daquela porta estava matando a vida que lhes restavam. Mexi minhas pernas, caminhei até a alma mais jovem, que chorava num canto escuro e frio. Ela, diferentemente das demais, não se importava com a porta, nem com a vidraça, nem com qualquer coisa que pudesse sair de lá; aquela alma, viva e jovem, chorava copiosamente as lágrimas de um enterro. Senti medo, e a dor de barriga enlaçava minhas tripas.

Aos prantos, a jovem alma, de coração virgem, me disse com seus olhos que não tínhamos mais nada há fazer ali, que o tempo de espera era inútil, e que os órgãos que interagiam em prol da vida de quem estava por detrás da porta já não se entendiam mais... Ela me comunicou, por meio de lágrimas, que a selvageria que incitava a vida era a mesma que provocava a morte, e que o milagre que é viver já não bastava para as almas perdidas do saguão. Estremeci-me quando entendi que do outro lado da porta vivia um morto, e do meu lado, morriam vivos. Morriam por não aceitar a morte, por não entender que viver é estar presente, é fazer com que circule desejos e ações pelo corpo do mundo. O corpo morto vivia, porque apesar de toda ausência de sangue e oxigênio, transmitia a nós, espectadores da porta verde, uma ansiedade cavalar, uma revolta, um ódio, um amor, uma nostalgia... O corpo faz com que inúmeras almas vivam a vida dele, lembrem das coisas dele, e assim, os mata, os apaga, e vive em seus lugares. A jovem alma me fez entender tudo isso antes que a dor voltasse.

Foi aí, diário de almas, que vi a porta abrir, passou por mim, ela, de 56 anos, deitada em um leito branco de lençóis finos, com inúmeros eletrônicos conectados em seu corpo. Senti que morria, mas senti que nós, que prolongamos seu estado de morrer (porque a morte é uma fase, morremos aos poucos), morríamos por ela e a impedíamos de viver. Diário, não pude mais agüentar a dor, tive que ir ao banheiro.




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primeira vez que escrevo uma nota assim! Isso é lindo, T.T


Folks, esse texto pode parecer contraditório, mas deve ser porque ele é subjetivo demais.

Bem, quando decidi em renomear o blog para 'Diário de almas' é porque tenho a intenção de transmitir, sobre um ponto de vista alternativo, as coisas que acontecem comigo ou com qualquer outra pessoa que eu conheça e que me autorize a reescrever a história (até parece que eu tenho moral pra reescrever história de alguém =P). Mas o bacana disso tudo é que eu me divirto xD~


Hãaa... a foto é uma obra de Vicent van Gogh, meu astro das pinturas... O que dizem é que van Gogh se matou logo após o término desta pintura (que ele se matou é verdade, mas não sabem se foi depois desta obra, saca?)



poisé, falouz.