terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Dúvidas.


Escrever sobre sentimentos é extravasar aquilo que está preso dentro de nós ou uma forma de sentir pena de nosso peso? Uma maneira de alimentar pensamentos mórbidos, noitadas escuras, momentos de solidão e frio constante? Representa que estamos verdadeiramente doentes? Ou significa que somos almas perdidas que necessitam se encontrar? Ou quer dizer que estamos patrocinando um teatro de dramas para chamar atenção daqueles que nãos nos ouvem? O quão terrível pode ser sofrer?
O quão egoísta é ter problemas que são seus? O quão egocêntrico pode ser necessitar de atenção? E não é aquela atenção entre o fim do trabalho e a novela.
No meu mundo cuidado é vergonha, e colo é pedido, não dado.
No meu mundo muito é pouco, pouco é nada e eu sou tudo.
Na minha vida mundo é choro, choro é música, música é lágrima.
No meu retrato preto é branco, branco é cor, e eu sou sépia.
Ainda não sei quem sou, nem o que quero, o quão pode ser difícil ter de escolher querer... Fazer da obrigação vontade, fazer da mentira verdade, fingir que está tudo bem.
Bem, não há do que se lamentar, já que é isso que acontece no mundo em que somos só mais alguém. Falta-me tato e olfato para sentir quem sou.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Fragilidade noturna


A noite estava escura. Meus pensamentos voavam soltos pela lua, perseguiam estrelas, sobrevoavam o mar, e os olhos calados deixavam as gotas d’água dançarem por minha face, escorregarem pelas maçãs pálidas e morrerem nos lábios secos.
O quanto mais custaria até que o coração vibrasse? O quanto mais duraria até que a vontade cessasse? O quanto mais eu choraria para que a inspiração chegasse? SOLIDÃO. E NADA A DIZER.
Ao mesmo tempo em que a dúvida corria por dentro da minha mente com a ansiedade de quem espera o ânimo da vida, eu amarrava minhas pernas contra mim mesma e segurava a vontade de libertar meus sentimentos dentro das mãos apertadas. Não. Não vou me render a esse instinto maligno que me quer dominar. NÃO. Eu sou minha, e tenho orgulho disso. Sou forte e independente. Sou mulher.
Sou mulher. Sou também carente e manhosa. Sou também intuitiva e sincera. Sou humana. E isso não é culpa dos hormônios.
Inquietude. Mais lágrimas. Agora o chão era muito sensível. Agora o céu era muito baixo. As idéias iam à lua e voltavam a minha cabeça em uma questão de segundos. Eu as mandava embora, elas retornavam insistindo na reconciliação. A oficina do pensamento já tinha ocupado todas as suas ferramentas e eu ainda não tinha desaparecido com esse trabalho extra. Estude menina, trabalhe menina, leia menina.
Já era dia. Os olhos molhados ainda não tinham descansado. O sol definitivamente não queria receber nada que viesse de mim. Este me olhava com desprezo e secura. Não precisava dele. Sou mulher. Sou forte e resistente. Sou orgulhosa e exigente.
Sou mulher, sou também fraca, sou carente. Sou altamente incoerente. Sou imprecisa. E sim, sou dependente. E me entrego à vontade que parte do fundo de mim, de uma deusa que nem eu conheço. Telefone. Perdão. Felicidade hipócrita.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Do inconsciente


Eu começaria por onde a imaginação me permitisse. Se não fosse pedir demais, minhas histórias nasceriam dos poros de um raio de sol que iluminasse meu caminho e esclarecesse minhas idéias. Eu quero arrancar minha história pela raiz da criatividade e comer os frutos da fertilidade mental.
Faz tempo que não fico acordada até tarde, há tempos não escrevo um texto sem pensar, apenas desenhando no papel as letras que me vêem à cabeça. Eu não escolho as palavras, mas algo que brota dentro de mim expira espontaneidade e me impede de pensar no que escrevo. Ainda bem. Meu pensamento é inimigo da concordância de minhas idéias. Sempre que penso estrago tudo, quando as palavras brotam de mim direto para o papel não são crivadas pela rede furada que é meu pensar, minha consciência. Meu pensamento, ao contrário de outros, omite o que sinto; dá preguiça às mãos e impede que eu transcreva com fidelidade a vontade do meu ser.
Quando escrevo por escrever, tal como agora, sai do meu coração um fio de lã, este se desenrola e desfaz todo o novelo, desencadeia e liberta as amarras com as quais a consciência me trava. Meus instintos literários se desenvolvem em uma causa desconhecida que nasce no inconsciente. Ah, como ensejo encontra-la. Este meu inconsciente ainda esconde o que há de mistério e tensão em mim. Palavras estas, que são proferidas do íntimo de minha alma e partem para o papel são os segredos que guardo de mim mesma. O texto torna-se um desconhecido para a própria autora.
Oh consciência, eu te peço, mantenha essa característica sedutora de meus vocábulos. Que quando eu escreva, como agora, apenas por escrever, o mistério do léxico e de sua coerência ainda me encante, e que ainda me permita pelas minhas vontades.

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Foi escrito a mão num estado pré-sono, senão já sono, às 02 da manhã de uma sexta-feira.

Beijos

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

E nada aconteceu.


E nada aconteceu, ele me disse. Simplesmente não importava o fato de nossos corpos nus estarem afastando-se depois do momento de prazer, tratando daquilo como um momento de vergonha.
Ele me deu as costas e virou o corpo para o lado oposto da cama, daquilo que já foi ninho e campo de batalha. Não deixou que o tocasse, ou que lhe acariciasse de qualquer forma. Não me queria para o além do sexo. Não me senti absolutamente desprezada, muito menos usada, se também o quis, mas não compreendo a repulsa dos seus sentimentos, não entendi a profundeza de suas angústias.
Não me ame, ele pediu. Como se não fosse o suficiente o querer bem, ou sentir o cheiro de alfazema daquela pele, por isso digo que de amor eu nada entendo. Mas sei que se faltar mel às abelhas, faltará vida à colméia. Eu sinto sede do néctar, e aquele homem era minha flor.
Saia daqui, ele pediu. Não que eu quisesse ficar, não queria; entretanto sentia uma enorme necessidade de estar com ele, de não abandonar-lhe ao relento dos lençóis, de não condena-lo a solidão eterna que reside entre o domínio e o gozo. Será sentimento bom isto que me acomete? Será sentimento bom isso que me aflige?
O erro do ato estampava-se naquele rosto clássico, provavelmente esculpido por Michelangelo e importado diretamente do céu. Ele amarrou as cobertas ao seu redor, e comeu a distância entre a cama e o banheiro em passos rápidos. Corri atrás dele, para segura-lo dentro das minhas forças internas. Não mais agüentava essa pressão do peito, o palpitar dos punhos, cada vitalidade da minha alma gritando: FAÇA, FIQUE, FORÇA, LUTA.
Vá embora, ele disse.
Não me deixe, pedi.
Ele me entregou o dinheiro, 100 reais bem trocados, incluindo moedas. Vesti-me. Enfiei as notas na carteira e as moedas em algum bolso da calça.
Saí às ruas, novamente a procura de um amor barato, prático, e sem fundamento. Mas amor, porque não?

domingo, 6 de dezembro de 2009

Um dia eu sentei ao lado do amor


E ele usava um lindíssimo véu de prata bordado pelas mãos da mãe divina, estava nu à beira do mar azul, desenhando com os olhos o caminho das ondas. As suas mãos e pés estavam sujos de areia negra heterogênea e “acascalhada”, cheia de sedimentos coloridos e muitas conchas. O Amor cegava quando o sol lhe iluminava, sabendo disso fiquei esperta e em nenhum momento lhe dirigi os olhos. O que pude ver foi o que a água refletiu e a imaginação complementou.

Não sei se algum dia vocês chegaram tão perto do Amor como eu, e se chegaram, podem afirmar comigo o quanto ele é lindo. A pele não é branca nem negra, nem vermelha nem parda, eu até duvido que ali haja presença ou ausência de melanina; o amor é auto-suficiente em sua aparência. Ele, pra mim, era da cor da água que lhe refletia. Os olhos em nenhum momento se abriram, mas eu tive certeza que eram iluminados, como duas lâmpadas acesas, ou como os olhos da Medusa: podem cegar ou petrificar.

O Amor cantava baixinho um canto de sereia; afinado, harmonizado ao vento e ao bater das ondas; parecia música erudita. Sincronizado ao chacoalhar das folhas e galhos das árvores distantes e ao eco longínquo dos vales e das montanhas... O Amor me seduzia sem ao menos me encarar, o Amor literalmente me cantava. E me encantava.

Os cabelos longos e trançados daquele ser voavam em direção aos céus, e as criaturas mágicas levantavam seu véu para que a mãe divina lhe recebesse. A mãe divina, eu encarava, e ela igualmente me olhava, estava perfeitamente acomodada nos altos de uma nuvem de rubi, com as mãos esticadas querendo igualmente me receber. Mostrou-me acima das montanhas, uma outra nuvem; verde como a esmeralda. Convidou-me a nela deitar e a nela viver... Se com o Amor eu assim quisesse. Mas em nenhum momento o Amor me encarou, e em nenhum instante eu quis ter de olhá-lo.

A mãe divina e seus olhos de mel subiram acima dos céus e se perderam no alto do azul, o Amor com ela lhe foi, e os anjos estendiam as mãos para com eles eu ir. Mas como poderia eu, tão distante daquelas realidades, partir daqui e procurar felicidade nos vales do desconhecido? Os anjos ainda me sorriam e me chamavam... Naquele exato instante eu era uma criança que estava encantada por um doce que estava fora de meu alcance, em cima da geladeira talvez. Nada melhor que definir aquela sensação como a de querer um bolo de chocolate apetitoso exposto e disposto a ser devorado, entretanto inalcançável. Mas o vento cruzou o meu olhar, e abateu-me contra o chão. Eu inspirei, e não mais senti o cheiro doce. Levantei-me e não mais vi anjos ou nuvens, ou algum vestígio do véu.

Caí na arei negra, e enchi os punhos de cascalho e terra, de ódio e frustração. E o mar era negro. E o azul do céu se fora. E não havia lua, nem a estrela Vênus brilhava para meu conforto. E os vales e montanhas explodiam em vulcões. E o que era luz, era o fogo que queimava o céu e lhe partia em dois. E o Amor escapou por meus dedos, e jamais vi seu rosto.

Foi aí que percebi, ao longe, os cabelos negros e encaracolados que teciam as costas da Angústia, o que me chamou atenção; ela sentava em uma pedra rígida no meio do mar, e as ondas lhe atingiam bruscamente, contudo, não se mexia. No momento que percebeu meu olhar, a Angústia virou-se e me encarou com dois grandes glóbulos preenchidos de uma íris avermelhadamente volumosa, seduzindo meus movimentos e chamando-me para estar com ela. A mesma usava uma coberta de renda negra, confeccionada nos ateliês do inferno. Não sei se algum dia vocês chegaram tão perto da Angústia quanto eu, e se chegaram, podem afirmar o quanto ela é vazia.


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Não há o que explicar do texto. Para tentar entendê-lo embarque ao mundo dos pesadelos.




=D

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Confissões de uma fada


Nunca pensei que um dia estaria escrevendo coisas como estas. Minhas lamentações não são tantas, mas são coerentes. Meus olhos viram e viveram muito, e ainda me falta tanto que paro, penso, e me pergunto: quem se preocupou com as minhas remotas intenções de nascer fada?
Oh sim, você deve estar imaginando o quão maravilhoso deve ser nascer fada, crescer fada, ter poderes mágicos, participar de histórias aladas, aventuras, duelos, fadigas... Sim, é uma vida hipnótica, e muitas de nós mergulham fundo nesta rotina. Parabéns a todas elas, podem estrear seu próprio conto agora. Mas eu não. Nasci fada, e ninguém me perguntou se era isso que eu queria. Tranquei-me no auto da minha própria torre, isolei-me destes príncipes e princesas insuportáveis e levo a melhor vida de fada solitária que alguém poderia querer.
Nasci de um canto, desafinado e sem jeito; tanto que a flor que me pariu murchou logo em seguida... Fui fada órfã. Não que fadas tenham pai e mãe como humanos ou animais, mas fui órfã de flor... Cada fada nasce de uma flor, e esta deve abrigar-lhe durante os primeiros meses de vida. Minha mãe-flor era um copo-de-leite, feia e mal formada, estava pedindo para morrer. Meu pai, o bem-te-vi que cantou meu nascimento, era velho e nem voava mais; ou seja, se dependêssemos destes seres, estaríamos muito, como posso dizer, encrencadas. Por estas causas, passei meus primeiros meses na colônia de fadas velhas, onde aprendi tudo aquilo que sei (e não uso).
As fadas nasceram para trazer alegria ao mundo, e para isso, devem ser boas atrizes... Somos boazinhas e invencíveis! Damos a vida por nossa causa! BALELA! Ainda me lembro de histórias tão horrendas que... Ah... Se as árvores falassem! Até que falam, mas você não as entenderia porque é um humano egoísta, e para ouvir as árvores, bem... É complicado, é preciso muito amor no coração e bons ouvidos. As árvores falam através do vento, e as vozes do vento são como enzimas: só podem ser decodificadas por certos meios e em certas circunstâncias... MAGIA, algo que os humanos jamais terão o controle. Sim, sim... O controle da magia é exclusivo para os seres da natureza... E você humano, já foi excluído desse time. Você detém a existência, o amor divino, o paladar, o olfato... O que sobraria para nós? Deixe-nos em paz com nossa razoável magia.
O mal da minha existência são os humanos, em especial esses príncipes e princesas que não sabem fazer nada sozinhos. A fada tem que estar sempre lá, e mesmo com poderes que podem fazer cegar, sua demonstração é desprezível. É costurar um vestido, aparar umas folhinhas que estão bloqueando o caminho do castelo, atender pedido de bonecos mentirosos, gente que não quer crescer... É sempre assim: servindo e nunca recebendo. Qual a história que você conhece em que a fada é resgatada ou que ela se apaixona ou qualquer outra coisa? AH... Você não lembra. NÓS NUNCA TEMOS FINAIS FELIZES PORQUE SIMPLESMENTE NÃO TEMOS FIM! É essa eterna roda viva, viva roda, rode sem parar. O meu mundo é mesquinho. Não há castelos, nem cavalos brancos, nem príncipes encantados. Não há sequer casa ou família, ou tinta e papel para imaginar e escrever histórias... Eu nem existo! Sou apenas fruto da imaginação de alguém que resolveu se indignar pela causa das fadas. Não nasci flor para ser cheirada, nem água para ser usada, nem fogo para queimar, nem ar para refrescar rostos quentes no verão. Nasci fada, porque quem escreve quis assim, e estou condenada a viver PARA SEMPRE presa nessa imaginação.


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anos sem postar! estou falando com o nada! uhu! assim que é bom.

o texto foi escrito quando minha amiga, Fada Lili, conversou comigo sobre sérios problemas que ela estava passando.

ah, besteira.


encarne o personagem, meu bem.

domingo, 2 de novembro de 2008

Mulher de uma rosa só.




Desci as escadas com uma leve impressão que já tinha vivido aquilo. E realmente vivi. Não me lembro como nem onde, só sei que aquela memória estava muito viva na minha cabeça para ser um mero déjà vu. Faltava apenas mais um degrau, eu estaria livre daquele fardo. Busquei todas as forças dentro do meu corpo, pedi ao cérebro que movesse minhas pernas... Porém, paralisei. De alguma forma meus membros foram amarrados por uma corrente invisível que não só me impedia de descer, mas me puxava de volta para o terceiro andar. Resisti o que pude, forcei os pés, as pernas sangravam, segurei o corrimão com uma força impressionante, tão forte era que senti que rachava... Encontrei forças para urrar, quebrar paredes, chorar sangue... Menos para ir embora. Foi quando ele desceu.

Tive certeza que ele sentiu o meu peso na sua escada. Eu estava tão carregada, tão enfadonha, que o ambiente não me suportava... Expelia-me dali. Eu, que não podia me mover por causa da corrente, sentei no penúltimo degrau – em que estagnei- e comecei a chorar. Meu pranto, sujo e ralo, escorria por minhas mãos como se não fosse nada, como se não valesse nada, como o troco da padaria, a balinha de cinco centavos... Não servia nem para por no bolso. Foi quando senti que a mão quente e macia dele tocou meu ombro desnudo. E a corrente venceu. Em um minuto estávamos no apartamento dele transando loucamente.

Enquanto ele beijava meus braços, lembrei-me das vezes que os feriu com aqueles dedos leves e impiedosos; enquanto coçava meu colo com os dentes, lembrei-me de quando me puxava pela gola e me forçava a amá-lo como nunca. Ao término do coito, selvagem e sem sentido, me vi mais uma vez presa à minha triste realidade. Ele dormia. Eu tentei. Virei para o lado oposto ao seu rosto, e percebi a margarida solitária que repousava no vaso, e entendi: Sempre fui mulher de uma rosa apenas.

As rosas que já ganhei nunca me disseram nada. Flores, buquês, incensos, chocolates... Nunca vali um terço disso. Podia fugir, não queria, queria correr não podia. Mesmo quando dormia ele me observava e me ameaçava. Aquele olhar carinhoso que escondia o amor megalomaníaco que possuía. Não queria mais ser dominada com tantos afetos. O suave correr dos seus dedos, o caminho que aqueles lábios traçavam no meu corpo... Uma agonia, um ardor como brasa quente. Ou ferrão. Sentia-me um touro ferrado em brasa quando ele me tinha. Nunca precisei ser conquistada, porque assim como um bicho, me entregava ao dono. Se nunca quis, não precisava.

Cresci, levantei-me e entreguei-me ao espírito animal que me tentava, lati escárnios e enfureci os órgãos, os instintos. Levantei-me, corri, lhe acordei. Primeiro tiro. Segundo tiro. Revolta. Prantos. Não entendi mais nada.

Desci as escadas com uma leve impressão que já tinha vivido aquilo. E realmente vivi. Não me lembro como nem onde, só sei que aquela memória estava muito viva na minha cabeça para ser um mero déjà vu.



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Vamos aos comentários.

Essse texto bem... nasceu de uma dor de barriga e de uma situação vertignosa. E vertigem é vertigem, né?



Bem, não queriam entender, mas se entenderem... bacana.