terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

E nada aconteceu.


E nada aconteceu, ele me disse. Simplesmente não importava o fato de nossos corpos nus estarem afastando-se depois do momento de prazer, tratando daquilo como um momento de vergonha.
Ele me deu as costas e virou o corpo para o lado oposto da cama, daquilo que já foi ninho e campo de batalha. Não deixou que o tocasse, ou que lhe acariciasse de qualquer forma. Não me queria para o além do sexo. Não me senti absolutamente desprezada, muito menos usada, se também o quis, mas não compreendo a repulsa dos seus sentimentos, não entendi a profundeza de suas angústias.
Não me ame, ele pediu. Como se não fosse o suficiente o querer bem, ou sentir o cheiro de alfazema daquela pele, por isso digo que de amor eu nada entendo. Mas sei que se faltar mel às abelhas, faltará vida à colméia. Eu sinto sede do néctar, e aquele homem era minha flor.
Saia daqui, ele pediu. Não que eu quisesse ficar, não queria; entretanto sentia uma enorme necessidade de estar com ele, de não abandonar-lhe ao relento dos lençóis, de não condena-lo a solidão eterna que reside entre o domínio e o gozo. Será sentimento bom isto que me acomete? Será sentimento bom isso que me aflige?
O erro do ato estampava-se naquele rosto clássico, provavelmente esculpido por Michelangelo e importado diretamente do céu. Ele amarrou as cobertas ao seu redor, e comeu a distância entre a cama e o banheiro em passos rápidos. Corri atrás dele, para segura-lo dentro das minhas forças internas. Não mais agüentava essa pressão do peito, o palpitar dos punhos, cada vitalidade da minha alma gritando: FAÇA, FIQUE, FORÇA, LUTA.
Vá embora, ele disse.
Não me deixe, pedi.
Ele me entregou o dinheiro, 100 reais bem trocados, incluindo moedas. Vesti-me. Enfiei as notas na carteira e as moedas em algum bolso da calça.
Saí às ruas, novamente a procura de um amor barato, prático, e sem fundamento. Mas amor, porque não?

2 comentários:

Márcia, vulgo Feto disse...

"Caramba", foi o que primeiro veio à cabeça. Surpreendentemente objetivo, belo e triste. Gostei mesmo!

Fóssil disse...

Adorei, Tatá! Essa mistura de sentimentos, essa confusão ordenada, esse amor racional... triste mas tem beleza como certas vidas - que alguns ainda tem a ousadia de chamar de fáceis.